quarta-feira, novembro 26, 2014

Botton e Sua Cela Dourada

Alain de Botton, no livro “Religião para ateus”, aspira vivenciar todos os elementos da vida religiosa, menos a devoção. Ele abre o livro afirmando que a “pergunta mais enfadonha e inútil que se pode fazer sobre qualquer religião é se ela é ou não verdadeira”. Botton celebra o self-service religioso com fins terapêuticos. Um filósofo desinteressado no alicerce do pensamento lógico? Será que nunca passou pela mente desse filósofo ateu que ao lutar em todas as frentes existenciais se confrontará com Deus em tudo? Botton nos convida a abraçar o seu pensamento irracional, enquanto ironiza a suposta não racionalidade da religião cristã.
Entristece-me a postura de Botton porque apesar de circular na alta cultura, ter uma vida rica e privilegiada, ele não sabe nada sobre a Verdade. Botton diz querer resgatar belos aspectos da religião cristã, mas antes precisa ser resgatado da sua cela dourada que lhe impediu de ver a sabedoria e profundidade do cristianismo. O cristianismo consegue falar a linguagem das pessoas mais simples, mas também consegue escalar a torre dos eruditos; e não se detém ali, está sempre um passo à frente do mais sábio dos homens. Não é toa que mentes excepcionais como Tomás de Aquino, Pascal, Kierkegaard, C. S. Lewis e inúmeros outros abraçaram o cristianismo.            
Botton me lembra do jovem peixe de uma historinha. Um velho peixe perguntou ao jovem peixe que nadava de um lado para o outro: “Como está a água?”. Após alguns instantes de silêncio, o peixe jovem disse: “O que é água?”.

terça-feira, novembro 18, 2014

O Regresso

No filme “O Regresso para Bountiful” (The Trip to Bountiful), de 1985, Geraldine Page interpreta Carrie Watts, uma idosa teimosa cujo maior desejo é voltar ao lar de sua infância - na pequena cidade de Bountiful, no estado do Texas - antes de se dirigir para a sua casa celestial. Já que o filho e a nora não atendem o seu pedido, ela resolve fugir de casa e embarcar num ônibus retornando a velha casa.
           
O hino “Manso e suave” (Softly and tenderly Jesus is calling) abre e fecha o filme. E durante a viagem Carrie canta mais um hino. Hollywood, hoje dominada por anticristãos, surpreendentemente não vetou a inserção desses hinos. 


Carrie consegue chegar à fazenda onde cresceu: a casa está em ruínas, os campos tomados pelo matagal, tudo está abandonado. Ela diz: “É estranho mas desde que cheguei aqui tenho a impressão que meu pai e minha mãe vão sair desta casa, saudar-me e me darem as boas vindas”.

Por que carregamos a estranha sensação de que aqui não é o nosso lar Por que uma pessoa bem sucedida financeiramente, sem problemas de saúde ou familiar, de repente sente um nó na garganta ansiando por um lugar que não sabe explicar muito bem?

O pintor Edouard Manet expôs em uma tela – The Bar at the Folies-Bergeres – uma interessante mensagem. Um restaurante atulhado de pessoas, lâmpadas que ressaltam o ambiente de euforia, garrafas de champanhe e vinho, frutas e, entre essa abundante visão de luxo e diversão, uma jovem de pulseira dourada e roupa sofisticada, cuja face exala uma melancolia inexaurível. O vazio está em todo lugar.

A Bíblia ensina que este mundo não é nossa casa, somos peregrinos e forasteiros, viajantes a caminho do nosso verdadeiro lar. Em tempos difíceis ou bons, ansiamos por algo mais. Fomos criados para avançar além dos limites estreitos deste mundo. Deus colocou o desejo da eternidade no coração do homem (Ec. 3:11). Esse anseio funciona como uma seta apontando o caminho para Deus. Não há vida independente de Deus.

“Sabemos que, se for destruída a temporária habitação terrena em que vivemos, temos da parte de Deus um edifício, uma casa eterna no céu, não construída por mãos humanas. Enquanto isso, gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação celestial [...] Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida" (II Cor. 5:1,2,4).

quarta-feira, novembro 12, 2014

O Céu Se Aproximava – A Orquestra Celestial

No dia 10 de novembro de 2014, Deus chamou a minha mãe ao paraíso.
Mãe, dona Irene ou, simplesmente, passarinho – as três palavras que eu utilizava quando me dirigia a ela. Exemplo de filha, irmã, esposa, mãe, avó e bisavó. Exemplo de mulher cristã. Num mundo de valores diluídos, a minha mãe foi uma sólida fortaleza dos valores cristãos. 

Ela pôde usar com dignidade as palavras do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (II Tm. 4:7,8).

Confesso que não encontro palavras, elas fogem apressadas reconhecendo a insuficiência das letras perante a dor. Então empresto o trecho que li para ela quando lhe entreguei o exemplar do meu livro “Náufragos da Fé”, onde comento a morte dos meus dois filhos e irmã:
“A principal mensagem de Jó 42, é que no final Deus corrigirá todas as injustiças. Algumas tristezas como a morte dos filhos de Jó, a morte dos meus filhos, da minha irmã, não são recuperadas nesta vida. Palavras de consolo não arrancam a dor que encontra solo fértil no coração. Mas no fim esta dor será absorvida pelo Criador do universo. Terei meus filhos e irmã de volta. E, se eu não acreditasse nisso, que eles estão neste momento, alegremente sorrindo, pulando e explorando novos mundos, adorando e gozando do privilégio de conviver face a face com o Criador deste fantástico universo - e que recepcionaram com alegria minha tia que sofria do mal de Alzenheimer, certamente já fizeram diversos passeios juntos e saborearam a culinária celeste, que não fica a dever a queijadinha e o doce de leite que ela fazia na fazenda – então eu não creria em coisa alguma e teria abandonado a fé cristã. [...]
A esperança cristã afirma que a tragédia da perda dos meus filhos e da minha irmã não é apenas uma fatalidade. Não é simplesmente o problema de um defeito genético, um pedaço de DNA estragado no caso deles, e não foi apenas um erro médico que ceifou a vida dela.
A esperança cristã afirma que estes acontecimentos fazem parte de uma trágica história; mas não pertence à tragédia a última palavra. A esperança cristã afirma que o DNA deteriorado e o erro médico não prevalecerão. Que um dia estaremos caminhando juntos novamente, sentaremos a mesma mesa como convidados especiais do grande e eterno Criador. [...] A esperança cristã diz que raiará o dia em que a efêmera vida de duas crianças e de uma jovem senhora, no planeta terra, brilhará pelos tempos com uma glória que não somos capazes de imaginar em nossos mais desvairados sonhos”.

Conforta-me saber que “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus santos” (Sl. 116:15).

Ela voou. O céu está em festa. Aqui, a sua silhueta está desenhada na cama, na sua cadeira da sala de jantar ou da varanda, em cada milímetro da casa, em seus objetos e pertences.
A minha mãe dizia que a casa onde morava com meu pai era uma grande árvore, e todo dia, ao final da tarde, os pássaros – filhos, netos, bisnetos, nora, genros -, ali se reuniam. Sim. Ali é o nosso barulhento ninho.
O ninho perdeu o pássaro mãe. Mas o ninho coração dos familiares está cheio dos frutos que ela generosamente nos deu, alimentos que nos sustentarão até o dia no qual a abraçaremos novamente na presença de Deus.
Voa passarinho, Voa! Um dia voaremos juntos, eternamente!
*** *** ***
 “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo” (Ef. 4:11-12). Escrevo estas linhas para que familiares e amigos conheçam alguns detalhes da minha mãe, Irene, a amiga de Deus. A intimidade dela com Deus era algo especial. São experiências que devem ser compartilhadas “para edificação do corpo de Cristo”:

     1-     Quando Enaide, minha irmã, faleceu, a minha mãe ficou inconsolável. Chorava dia e noite, clamando para que Deus aliviasse a sua dor. Deus atendeu o seu pedido de uma forma especial: Numa bela noite, no quintal da casa, ela ouviu uma voz que dizia: “Não chores mais. Ela está bem”. E simultaneamente começou a ouvir cânticos que nem mesmo a melhor orquestra terrestre poderia executar. Cânticos celestiais. 

Para estudiosos, como James Hutton, a música ocupa uma posição singular “pois é a única arte praticada no céu e pelas criaturas sem pecado original”. Neste caso, “O ouvido humano não pode ouvir tal música, seja devido ao pecado original ou simplesmente por ser um órgão sujeito ao tempo e à morte. O que Campanella chama de molino vivo do eu abafa todos os sons celestiais. Em certos estados de êxtase, entretanto, alguns ouvidos puderam ouvir tal música”.
Um coral de anjos “dava uma canja” naquela noite em Jaciara. Aquela experiência espiritual estancou a fonte de lágrimas. Daquele dia em diante, apenas ocasionalmente, como é natural, as lembranças ainda provocavam lágrimas.

2-      Ela sonhou que meu filho nasceria com uma síndrome raríssima, do mesmo jeito que ela teve um filho (meu irmão) que morreu ainda bebê. Ela me chamou, quando minha esposa estava grávida, e disse: "Filho, Deus me mostrou que o seu filho nascerá assim..." e narrou o que viu. E assim aconteceu. 

3- Na sexta-feira da semana passada, a minha irmã Eliude dormiu com ela. Na madrugada, ela a chamou dizendo: “Você está ouvindo essa música linda?”. A minha irmã aguçou a audição, mas não conseguia escutar nada. A minha mãe continuou: “Coisa mais linda”. E, levantando o dedo indicador, reiterou: “Ouça”. 

Não tenho dúvidas que, mais uma vez, Deus afastou as cortinas permitindo que ela ouvisse a orquestra angelical. O céu se aproximava.
Dona Irene, mãe, passarinho, se foi no dia 10 de novembro de 2014. Estivemos do seu lado até o último suspiro e, como disse a minha tia Odilza: “Ela morreu como um passarinho”. Em silêncio, com a paz fixada em seu semblante. O anjo do Senhor afastou a cortina, o Céu chegou e ela enfim pode ver e ouvir a orquestra celestial que tanto a encantava. Seus olhos agora contemplam a glória de Deus.

quinta-feira, outubro 02, 2014

A Ponte É o Amor

No excelente romance, A Ponte de San Luis Rey, que foi adaptado para o cinema, o escritor Thornton Wilder narra um terrível acidente ocorrido numa pequena aldeia no Peru: uma ponte de cordas caiu quando cinco pessoas a atravessavam.
Um franciscano que ia atravessar a ponte testemunhou a tragédia. Em busca de respostas o monge pesquisa a vida das cinco vítimas. Por que aquelas pessoas? Por que não outras? Há um significado oculto na ordem das coisas? Ele descobre que cada uma delas estava trilhando o caminho da mudança de vida, da reconciliação. O amor os unia.
Wilder encerra o livro colocando na boca de uma personagem o triste lembrete de que em breve todos morrerão, e as lembranças daquelas cinco vidas terão deixado a terra; nós mesmos seremos amados por um tempo e depois esquecidos. Mas o amor é suficiente porque imortal. “A ponte é o amor, o único sobrevivente, o único significado”. 
Essa personagem vive em uma abadia cuidando dos pobres e doentes. Ela não procura respostas, ela vive além das respostas. Ela vive o amor derramado pelo Amor maior. Cidades, nações e indivíduos vêm e vão, mas o Amor permanece. A nossa vida não termina na morte. O amor retorna a sua Fonte Eterna.

“Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados... E vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele, e ele em Deus. E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele” (I Jo. 4:8-10;14-16).

domingo, agosto 31, 2014

No Coração das Coisas

Sabemos que o mundo contém muitas coisas que não podemos enxergar a olho nu - células, átomos, moléculas, quarks. Mas essas coisas podem ser medidas através dos rastros que deixam no caminho.
            O cristão crê na realidade intangível. Ela não pode ser medida com os instrumentos que temos à disposição. Mas pode ser medida através dos rastros que deixa no caminho. A pergunta correta não é: “As ferramentas que possuímos podem demonstrar a realidade de Deus?”. Mas sim: “Existe mais do que nós podemos ver?”.
            A Bíblia sempre ensinou que no coração das coisas não há um mapa orientando a montagem de um quebra-cabeça; mas o mistério. Não levantamos as mãos e confessamos a ignorância, somos cobrados para adicionar o nosso limitado conhecimento à sabedoria coletiva. A aceitação do mistério é um ato não de resignação, mas de humildade.
            As perguntas são insubstanciais. Você não pode ver, tocar ou medir uma pergunta. Isso não acontece apenas com as perguntas; as nossas vidas são construídas sobre o intangível. Neste exato momento você está lendo marcas/traços/símbolos em uma página. Elas não invadem, fisicamente, o seu cérebro. No entanto, na interação entre os borrões de tinta na página e o seu cérebro, o entendimento é transmitido. O entendimento é tangível? O que mudou entre a página e o seu cérebro? Quanto de nossas vidas acontece nos indescritíveis espaços deste mundo? Quanto é transmitido no silêncio entre as notas de uma música?
            Quando eu aprendo algo novo, uma varredura pode detectar alterações fisiológicas no cérebro, mas a mudança não é detectável. Quando eu sinto emoção, você pode mapear as correntes elétricas no meu cérebro, mas o mapeamento pode apresentar o sentimento? Veja a história da tua vida. Onde você nasceu, onde você cresceu, como foi a sua infância, quais as pessoas mais importantes que você conheceu durante a sua vida? Você criará uma imagem de si mesmo para contar a sua história.
            Mas, onde essa história existe? Ela tem uma existência física ou se limita as sinapses dos neurônios em seu cérebro? A sua história existia antes que eu lhe perguntasse?
            Falamos de coisas que existem “entre” as pessoas. Existe um “entre”? Se existir, não habita no universo físico. O mundo é, por assim dizer, cheio de entidades não físicas que confundem o nosso entendimento. Quando nos acostumamos a reconhecer o que não podemos ver, a noção sobre Deus parece menos estranha. Coisas não físicas são reais. As nossas vidas gravitam sobre coisas reais que são não materiais: ideias, emoções, beleza, imaginação, memórias, relacionamentos, intuições, alegrias, tristezas, sofrimento, amor e fé.
            Acreditar apenas no que vemos é submeter-se a uma cegueira voluntária. Seguir esse princípio limitaria a tal ponto a convivência com as demais pessoas que, poderíamos dizer, nos tornaria invisíveis na esfera existencial.
      Se reconhecermos as limitações do nosso conhecimento, o ateísmo é a confissão de uma ilusão indefensável.
            O cristão se rende a evidência: há muito mais do que podemos ver, há uma realidade não física, uma realidade maior. Se nós, criaturas com corpos que se movimentam em um mundo físico, somos tão dependentes de coisas que não podemos ver, por que os ateus consideram que Deus é uma ilusão improvável?
           Na verdade a fé retira as escamas dos olhos espirituais para que possamos vislumbrar as mãos de Deus manejando o dia a dia:O coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv. 16:9).

(Trecho extraído do livro Relíquias de Uma Terra Estranha © de Samuel Rezende - previsão de lançamento primeiro semestre de 2015)

quarta-feira, abril 09, 2014

Aos Amigos de Longa Data do Blog - Os Livros Estão à Porta


Quando eu era um bebê, fiquei doente, estive à beira da morte; e em uma pequena fazenda rodeada por montanhas, os meus pais fizeram um voto a Deus: se Ele preservasse a minha vida, eu seria pastor.

Hoje, penso em como Deus recebeu essa oração. Nunca me senti vocacionado para o sacerdócio. Sendo uma pessoa extremamente tímida, teria enorme dificuldade para criar laços com os paroquianos. Mal consigo criar vínculos com os vizinhos.

Mas, em muitos momentos da minha vida, senti um anzol de pesca enfiado em minha boca. O Pescador celestial puxando-me para perto de si.

Talvez daí tenha surgido o escritor de livros voltados para o universo cristão.

Deus aceitará esse remanejamento? De pastor para escritor? Eu oro pedindo que sim, confiando que a alteração faça parte do que Ele projetou para a minha vida. 
Pela primeira vez, os pensamentos que se tornaram frases anotadas, reviradas e refinadas, estão livres.

Podem gerar debates, provocar reflexões, ser um instrumento nas mãos de Deus. É uma sensação estranha e maravilhosa.

Dentro de 30 a 40 dias os livros estarão disponíveis. Informarei, como e onde adquiri-los.
Na Estação Noturna eu fui alimentado por diversos amigos. Vocês não imaginam a importância de cada
comentário, palavras de incentivo e apoio, nas quais me escorei durante todo esse tempo. Muitos blogs deixaram de existir, muitos amigos não sei por onde andam. Meus agradecimentos a Vilma, Caio, Edson, Vitor e Marlene. Eles representam todos vocês que caminharam e caminham por esta Estação.

A página dos livros no Facebook, onde serão disponibilizados alguns fragmentos das obras:
https://www.facebook.com/pages/Livros-de-Samuel-Rezende/1390903567796874?ref=hl

segunda-feira, março 31, 2014

O Envelhecimento do Mundo

"Certa feita Agostinho disse que não deveríamos ficar surpresos ao presenciar um mundo cambaleante, porque o mundo estava ficando velho. O mundo pode ser comparado a um homem que nasce, cresce, envelhece e morre. A velhice carrega tremores, tosse, perda da visão, surdez, cansaço. Mas não há motivos para temer, Cristo surgiu trazendo a eterna juventude, tanto para nós, individualmente, como para o mundo" ("Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

No Palco

Refletindo no interessante post da Vilma: "Este mundo em que vivemos, não é o lugar dos vivos. Aqui, é o lugar dos que morrem. Nós começamos a morrer a partir do momento em que nascemos e as nossas vidas são um caminhar em direcção à morte. Mas os que crêem em Jesus Cristo, sabem que quando vem a morte, entramos no mundo dos vivos! Não estamos a caminho da nossa morte. Estamos a caminho da vida!"


Imaginemos a vida como o palco de um teatro, imagem incansavelmente usada por dramaturgos.

Ao nascer a cortina se abre ou se fecha? Ao morrer a cortina se fecha ou se abre?

Preste atenção, a Vilma aponta a resposta.

terça-feira, fevereiro 18, 2014

Vida em Ruínas

É da própria natureza do pecado escravizar os que flertam com ele. Peque uma vez, e ainda conseguirá olhar de fora da janela e dizer: não entrarei aí novamente. Mas continue a pecar e se sentirá “em casa”. Não conseguirá mais olhar de fora para dentro. A disposição da alma, uma vez alterada, enxergará aquela casa em ruínas como um lar confortável. Questionado sobre a chuva dirá que é hora do banho; sobre a ausência de teto dirá que isso permite a visão de nuvens, estrelas, sol e lua; sobre a arquitetura dirá que reflete o relativismo pós-moderno nas paredes aos pedaços; a ausência de móveis dirá que representa a amplidão do espaço que reverbera em sua mente e assim, com um amontoado de desculpas, irá se auto destruindo e, infelizmente, atingindo todos os que estão à sua volta. 
(© Samuel Rezende, Relíquias de Uma Terra Estranha)

quarta-feira, fevereiro 12, 2014

A Corrupção do Espírito Humano


Há alguns dias li um artigo sobre as mortes do ator David Carradine e do vocalista Michael Hutchence da banda INXXS, ambos, aparentemente, vítimas da “asfixia auto erótica” que, segundo o psiquiatra Afonso de Albuquerque “Trata-se de uma situação rara e que consiste na indução, pelo próprio, de um estado de asfixia cerebral enquanto se masturba... através da constrição do pescoço por um cinto, ou um laço, ou por suspensão de uma árvore ... O fluxo sanguíneo cerebral é restringido parcialmente, resultando em falta de oxigênio, o que diminui a inibição cortical normal. Isso resulta num orgasmo mais intenso, mas também num risco de morte acidental, se o praticante desmaia antes de poder alargar a constrição do laço”.

A corrupção do espírito humano chega a tal ponto que leva a arriscar a própria vida buscando aumentar a intensidade do orgasmo. Um corpo estremecendo ao esvaziar a alma no pó.

domingo, janeiro 26, 2014

Tudo Está Perdido?

         Após mergulhar na imensidão do espaço e sair deslumbrado da sessão do filme Gravidade (Gravity), foi a vez de experimentar a vastidão do mar no filme “Al Is Lost". Ambos, espaço e mar são insondáveis. Ambos mexem profundamente com o ser humano. Por que um filme com apenas um ator (Robert Redford) e pouquíssimas palavras consegue penetrar no recôndito do nosso coração? A mania de fazer associações levou-me ao solitário Santiago do romance “O Velho e o Mar” de Ernest Hemingway, mas enquanto o velho do livro destila pensamentos em doses consideráveis, o personagem do filme é silêncio e ação.
            Aquele homem solitário, sem vida pregressa, lutando para sobreviver no meio de uma tempestade em alto mar, no veleiro avariado ou na fragilidade do bote, merece uma reflexão profunda.
Por que aquele homem sem história - não sabemos quem é, quais são os seus familiares, a sua história de vida - está naquele veleiro? Aquele personagem sou eu, é você. Aquele homem nos representa.  Do conforto do veleiro a tempestade em alto mar. A nossa vida não é assim? Por quê? O que devo fazer nessas horas? A arrepiante cena final responde a as indagações.

Após assistir, pela segunda vez, o tenso All is Lost (Tudo está perdido), filme com final aberto a diversas interpretações – pessimista, otimista (materialista) e espiritual (a minha esposa foi a que mergulhou mais fundo na interpretação espiritual), lembrei-me do conto do Stephen Crane, de um livro que “desapareceu” após emprestá-lo. Ainda bem que hoje temos o Google. 
Crane, ele próprio vítima de um naufrágio, escreve aquela que poderia ser a abertura dos filmes que mostram a fúria da natureza contra as embarcações: “Uma particular desvantagem do mar reside no fato de, após ultrapassar com sucesso uma onda, descobrirmos que atrás dela vem uma outra tão importante e tão nervosamente ansiosa por provocar inundações em barcos... Uma noite passada no mar num barco aberto é uma longa noite. Quando a escuridão por fim se instalou, o brilho da luz, erguendo-se ao sul do mar, mudou para um intenso dourado. No horizonte norte surgiu uma nova luz, um lampejo azulado ao fundo das águas. Estas duas luzes eram a mobília do mundo. De resto, nada mais que ondas”.
Num tom irônico, certa vez Crane observou: “Um homem disse ao universo: ‘Senhor, eu existo!’. ‘Todavia’, respondeu o universo, ‘o fato não criou em mim um sentimento de obrigação’".
Contrariando o angustiado Crane, Jesus disse: “Não se vendem cinco pardais por duas moedinhas? Contudo, nenhum deles é esquecido por Deus. Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!" (Lc. 12:6,7). 
Tudo está perdido? O lembrete de Jesus faz toda a diferença.

segunda-feira, janeiro 20, 2014

Na Lama ou Na Maravilha dos Nossos Dias?

Uma lenda rabínica fala de dois homens que experimentaram a divisão do mar vermelho, mas jamais olhavam ao redor. Acima havia uma magnífica coluna de fogo protegendo-os do exército egípcio. De cada lado havia uma resistente parede de água. Mas estes dois homens, Rubens e Simão, não conseguiam notar os milagres que aconteciam ao redor, porque estavam olhando para os seus pés se arrastando no meio da lama, e conversavam entre si:
- Eu não posso acreditar que estão nos forçando a caminhar neste lamaçal.
- É como a lama que usamos para fazer tijolos para o faraó!
- Sim, é. Durante toda a nossa vida estivemos envolvidos com esta terrível lama.
- Escravidão e liberdade é a mesma coisa, não é? Nada além de lama, como podemos ver.
         Às vezes me flagro reclamando da lama em vez de desfrutar das maravilhas que estão ao meu redor.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

A Religião É Uma Muleta?

            Os céticos costumam dizer que a religião é uma muleta. Ora, se a religião é uma muleta, qualquer coisa serve como muleta, então o problema não reside na religião, mas no indivíduo.
            O mais estranho é o indivíduo, sofredor por excelência, buscar consolo em algo que exige mais do que é capaz de suportar, levando o escritor Tolstói ao desespero: “Não julguem os santos ideais de Deus pela minha incapacidade de alcançá-los. Não julguem Cristo por aqueles de nós que imperfeitamente usam o seu nome... Se conheço o caminho para casa e estou andando por ele como um bêbado, ele não deixa de ser o caminho certo apenas porque estou cambaleando de um lado para outro! Se não é o caminho certo, então me mostre outro caminho; mas se cambaleio e perco o caminho, você deve ajudar-me, você deve manter-me no caminho verdadeiro, exatamente como estou pronto a apoiar você. Não me desencaminhe, não se alegre porque me perdi, não grite de alegria: ‘Vejam-no! Ele disse que está indo para casa, mas ali está ele rastejando em um atoleiro’. Não, não se regozije com o meu erro, mas me dê a sua ajuda e o seu apoio”.
         A religião cristã transfere ao indivíduo a responsabilidade por seus atos e consequências. Nesse caso, o melhor consolo para o indivíduo seriam as respostas psicológicas, sociológicas ou científicas que costumam transferir a “outros” a responsabilidade individual. A crença no gene egoísta é consolo para fracos. Transfere-se para os genes a responsabilidade que deveria ser do indivíduo.
            Mas, consideremos que a birra dos céticos encontre escoadouro: a religião é uma muleta. A muleta de Adão. A raça humana caminha com um coxear agonizante. Por isso, cada um arrasta o seu velho Adão para fora da cama, escova os dentes, toma banho, faz ele se vestir, coloca os sapatos em seus pés e vai manquitolando para a igreja.
          Espera-se que se continuar arrastando o velho Adão à igreja, ele, eventualmente, poderá tornar-se um cristão. E se ele se tornar um cristão – quem sabe? – talvez com o tempo tornar-se-á um espécime raro, aprenderá a caminhar corretamente, ainda que tropece de vez em quando.
       Triste não é usar a muleta que está à disposição, triste é preferir rastejar imaginando caminhar elegantemente. 
(Trecho do livro "Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)