sexta-feira, janeiro 28, 2011

Película

Precisamos consentir que luzes lampejem em nós, permitindo ver – mesmo que por breves clarões na vida como numa escura sala de projeções, sacrificando nossas consolações vazias, nossas paixões condenadas a cinzas, nossa avidez pelo efêmero – Aquele que prefere ocultar-se e que, em seu pudor, é a Fonte permanente do nosso mais intenso fascínio.
            Como o apóstolo Paulo, precisamos ser cegados. Mas uma cegueira que nos liberte da escuridão que nos rodeia e nos conceda olhos capazes de ver através dessa fina película transparente situada entre o homem e Deus. ©

Antes do Amanhecer

Título original: Before Sunrise
Direção: Richard Linklater
Gênero: Romance
Tempo de duração: 105 minutos
Ano de lançamento: 1995
Sinopse: Jesse (Ethan Hawke), um jovem americano, e Celine (Julie Delpy), uma estudante francesa, se encontram casualmente no trem para Viena e logo começam a conversar. Ele a convence a desembarcar em Viena e gradativamente vão se envolvendo em uma paixão crescente. Mas existe uma verdade inevitável: no dia seguinte ela irá para Paris e ele voltará ao Estados Unidos. Com isso, resta aos dois apaixonados aproveitar o máximo o pouco tempo que lhes resta.

O Velho e o Mar (Ernest Hemingway)


sexta-feira, janeiro 21, 2011

A Lente

A arte nos leva a considerar a vida através da lente da história. A Bíblia é uma história. A Bíblia é a história do projeto redentor de Deus. Nós fazemos parte dessa história. A poetisa Denise Levertov dizia que a língua poética da história não é “uma examinação do que acontece, mas uma imersão no que acontece”. A Bíblia não é um manual de procedimentos ou uma coleção de lições morais, mas uma história que ainda se desenrola.
            A arte nos leva a considerar a complexidade do mundo, experimentar as nuances da vida e compreender que o mundo não é preto ou branco. Ao ler “O Grande Gatsby” aprendo quem Gatsby é, e desenvolvo uma simpatia que esfacela os julgamentos arrebatadores que emito quando vejo uma pessoa em apenas uma dimensão. A arte me leva a ver as pessoas com olhos mais benevolentes.
            A arte desenvolve a imaginação. A beleza dos relacionamentos, da criação e de muitos aspectos ordinários da vida podem facilmente ser negligenciados se não treinarmos os nossos olhos para ir além da primeira camada. ©

Além da Linha Vermelha

Título original: The Thin Red Line
Direção: Terrence Malick
Gênero: Drama/Guerra
Tempo de duração: 170 minutos
Ano de lançamento: 1998
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, fica claro que o resultado da batalha de Guadalcanal influenciará fortemente o avanço japonês no Pacífico. Assim, um grupo de jovens soldados é enviado para lá, trazendo alívio para as esgotadas unidades da marinha. Lá os recém-chegados conhecem um terror que nem imaginavam, mas no meio deste desespero surgem fortes laços de amor e amizade.

Poesia (T. S. Eliot)


quarta-feira, janeiro 19, 2011

Eternamente Jovem

Eu era uma criança morando em uma pequena cidade do interior. Acostumado a ouvir no velho rádio Roberto Carlos, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriani, Diana, Odair José, Secos & Molhados e outros artistas nacionais. Um dia ouvi a abertura de cordas de “Califórnia Dreaming” do The Mamas and The Papas. A harmonia voava nos ares, o doce anseio do poema lírico, o som da costa ocidental levou-me para longe das pequenas brigas com as outras crianças da escola.
Alguns anos depois, por volta dos 17 anos, em um salão de bar, de um velho jukebox uma canção saía e entrava em minhas veias com seus arranjos frescos, e as palavras que me pareciam poéticas, quebrando a solidão. Fui informado que era da banda Alphaville, “Forever Young”:

Vamos dançar com elegância
Vamos dançar por um instante
O paraíso pode esperar
Estamos apenas observando os céus.
Desejando o melhor
Mas esperando o pior
Você vai deixar cair a bomba ou não?

Nos deixe morrer jovens
Ou viver pra sempre...
A vida é uma viagem curta...

Eternamente jovem
Eu quero ser pra sempre jovem
Você realmente quer viver pra sempre?
Pra sempre e todo sempre
Eternamente jovem
Você realmente quer viver pra sempre
Eternamente jovem

Alguns são como a água
Outros como o fogo
Alguns são a melodia
Outros são o ritmo
Cedo ou tarde
Todos terão virado poeira
Porque não permanecem jovens?
É tão difícil ficar velho
Sem um propósito
Eu não quero ser sacrificado
Como um cavalo inútil
A juventude é como um diamante ao sol
E os diamantes são eternos

Tantas aventuras não aconteceram hoje
Tantas canções que esquecemos de tocar
Tantos sonhos aparecendo do nada
Nós os tornaremos realidade

Eternamente jovem
Eu quero ser pra sempre jovem
Você realmente quer viver pra sempre jovem?
Pra sempre e todo sempre
Eternamente jovem

Eu jamais esqueci o impacto desse som deslizando em mim e descobri como a arte pode, inesperadamente, entrar em nossas vidas, deixando uma marca inesquecível.
Tentando construir um acervo de vídeos das músicas que me marcaram, percorri o Youtube selecionando esses momentos mágicos. Ali estava o Alphaville com seu clip original, da década de 80. O vocalista Marian Gold, no frescor de sua juventude, e seus jovens companheiros de palco. Mas ali também estava alguns vídeos recentes, como a apresentação da banda em um festival de 2007. Eles cantavam “Eternamente jovem”, e confesso que as palavras me soavam como um melancólico desejo não atendido. O tempo passou, eles envelheceram. Tudo dentro do roteiro estabelecido. O jovem esbelto tornou-se um senhor rechonchudo. Mas a música permanece embriagantemente moderna.
O Alphaville foi o porta-voz do maior sonho humano: viver pra sempre. De preferência, jovem. As modernas clínicas de cirurgia estética, os spas e as academias de ginástica tentam deter, ou pelo menos, adiar, o inevitável envelhecimento do corpo. A ilusão de uma juventude eterna permeia a existência humana; continuamos a busca sem êxito da “fonte da juventude”.
Exercícios são elaborados, capas de revistas apresentam modelos com rosto sem rugas e corpos atraentes; fitas de vídeo, exercícios e cremes prometem rejuvenescimento, basta seguir a receita prescrita. Academias de ginástica e cirurgias plásticas tentam mascarar o envelhecimento.
“A juventude é como um diamante ao sol... E os diamantes são eternos... Eu quero ser pra sempre jovem”, cantava o cinqüentenário vocalista. Mas o corpo denunciava o desejo não realizado.
Aos cristãos foi prometido a vida eterna e um novo corpo. Seremos “revestidos da nossa habitação celeste” (II Cor. 5:1-8). O elemento mortal será “absorvido pela vida”. Qualquer que seja nossa aparência exterior, nossa intelectualidade e nossa natureza espiritual, no céu será a de um santo que é maduro e que tem as faculdades completas de um adulto, para que possa desfrutar tudo o que Cristo preparou para nós. Nossos velhos pais que, provavelmente, já perderam o vigor físico, estarão de posse de um corpo espiritual rejuvenescido, aptos para desfrutar de tudo aquilo que pode ser experimentado.
Os filósofos medievais acreditavam que teríamos, no céu, a idade de 33 anos, considerada a idade ideal, de maturidade, reflexos da duração da vida terrena de Jesus Cristo. Uma lenda chamada “A corrente purificadora” diz que “Aqueles que viveram até a idade adulta, serão trazidos de volta na idade de quarenta anos; aqueles que morreram crianças serão trazidos com a idade de quinze anos; todos viverão felizes com suas famílias e amigos”.
As imagens, os sons e as palavras são tatuados em nosso interior. Nós temos uma arca de tesouros que nos acompanha na jornada. De vez em quando preciso ouvir uma suave melodia, ver uma determinada cena de um filme, reler um trecho marcante de um livro ou apreciar um quadro que fala comigo.
O poeta Tennyson dizia que nem o mundo natural e nem a religião tinham a palavra final sobre a vida e sobre Deus – devemos escutar ambos a fim de compreender: um poeta viajando pela mudança das estações ou o verso de um hino apontam para o alvo maior.
Não consigo compreender as pessoas que não se encantam com a natureza, os livros, as músicas, os filmes e as pinturas. Encontro beleza e conforto na arte e na natureza, e direção na Bíblia. E assim prossigo a minha dança, exultante, balançando o meu corpo rechonchudo ao som de “Eternamente Jovem”, enquanto meu pé direito diz “Aleluia” e o meu pé esquerdo “Amém”.

(Trecho extraído do livro "Relíquias de Uma Terra Estranha" de Samuel Rezende)

sexta-feira, janeiro 14, 2011

A Abertura

Azar Nafisi é uma escritora iraniana, que foi professora de língua inglesa na Universidade de Teerã e escreveu o Best-seller “Lendo Lolita em Teerã”, O livro conta a história de sete mulheres, estudantes de literatura que se reúnem escondidas para ler livros proibidos: literatura clássica. Na introdução do livro, Nafisi escreve: “O que estamos procurando na literatura de ficção não é a realidade, mas uma revelação da verdade”.
            Para mim a frase de Nafisi se estende a todas as manifestações artísticas. Procuro a abertura, a fresta no muro que possibilite visualizar a luz do sagrado naquilo que a igreja considera profano. ©

A Lenda do Pianista do Mar

Título Original: La leggenda del pianista sull’oceano
Direção: Giuseppe Tornatore
Gênero: Drama/Musical
Tempo de Duração: 126 minutos
Ano de Lançamento: 1998
Sinopse: Um garoto nasce em pleno alto-mar, ganhando o nome do ano em que nasceu: 1900. A criança cresce num mundo encantado de fortes ventos tempestuosos e cobertas balançando, conhecendo toda a existência disponível a seu toque nos confins do transatlântico em que nasceu. Já crescido, seu talento natural no piano chama a atenção da lenda do jazz Jelly Roll Morton, que sobe a bordo para desafiar 1900 para um duelo. Indiferente com sua súbita notoriedade, 1900 mantém uma fixação pelo mar, sendo sempre seduzido pelos sons do oceano.

O Bode Expiatório (René Girard)



sexta-feira, janeiro 07, 2011

Portador

             Nós, freqüentemente, lamentamos o fato de que não compreendemos Deus. Não entendemos porque não responde uma oração. Falamos sobre o seu movimento no mundo, mas não concordamos com a forma que conduz a nossa história.
As coisas acontecem, aparentemente sem nenhuma razão, e o cérebro tenta fazer a ligação entre o acontecimento e Deus, mesmo que a situação pareça cruel. “Por quê? Por quê?”, nós gritamos. “Mostre-nos a sua glória”, clamamos como Moisés. E Deus desliza na névoa, deixando traços e indícios insuficientes para destruir as dúvidas.
            O mundo evangélico é dividido entre sagrado e profano, religioso e secular. Isso leva a dicotomia sobre a realidade. Ciências versus fé, estado versus igreja, entretenimento cristão versus entretenimento secular. Eu não consigo ver o mundo dessa maneira. Se o mundo pertence a Deus (Sl. 24:1), e se Deus é onipresente, como pode haver tempo, lugar ou maneira de pensar que esteja ausente da sua presença? Este mundo é uma mistura inextricavelmente interligada do bem com o mal. Às vezes o profano não é antítese do sagrado, mas portador do mesmo. ©

A Fraternidade é Vermelha

Título original: Trois couleurs: Rouge / Three Colors: Red
Direção: Krzysztof Kieslowski
Gênero: Drama
Tempo de duração: 100 minutos
Ano de lançamento: 1994
Sinopse: Fraternidade é Vermelha é a conclusão da monumental Trilogia das Cores, do mestre polonês Krzysztof Kieslowski; que tem como tema as cores e os lemas nacionais da França: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Valentine é uma jovem modelo que vive em Genebra. Certo dia, ela atropela uma cachorrinha e, preocupada, sai em busca de seu dono. Assim, conhece o homem que mudará a sua vida: um juiz aposentado que passa os dias espionando as conversas telefônicas de seus vizinhos. É o início de uma história de redenção, compaixão e perdão sobre a comunicação entre os homens.

O Amor nos Tempos do Cólera (Gabriel Garcia Márquez)